As eleições para prefeito e vereador que ocorreram no dia 06 de outubro, colocaram fim no processo eleitoral para para mais de 5 mil cidades espalhadas pelo Brasil. Apenas 52 delas terão um segundo turno, seguindo a regra eleitoral que estabelece que apenas as cidades com mais de 200 mil habitantes possam ter um segundo embate.
Através das propagandas eleitorais que se iniciaram em 16 de Agosto, cada cidadão brasileiro viveu intensamente esse processo. Ainda que exista o tempo de televisão e rádio, os políticos nunca tiveram um aliado tão forte que ainda não teve todo o seu potencial explorado: A internet.
Dificilmente algum cidadão com acesso a internet não ficou sabendo da expressão “chupe aqui para ver se sai leite”, proferida pelo candidato à prefeitura de Fortaleza, George Lima, em debate que ocorreu em Agosto. Ou até mesmo os nomes folclóricos de candidatos, como “Pateta”, “100 Mizéria” e “Me ajude por favor”.
Também em função da internet, todo o país parou para acompanhar a disputa do município de São Paulo, tendo seu ápice na cadeirada do comunicador José Luiz Datena no empresário Pablo Marçal (https://www.youtube.com/watch?v=nv3jXHWEUWg). Pablo, inclusive, ficou marcado pelos “cortes”, os chama dos vídeos curtos que eram produzidos por sua equipe e apoiadores que tinham grande alcance nas redes sociais, não à toa o candidato conseguiu mais de 1.7 milhões de votos sem ter tempo de propaganda.
Ainda assim, a impressão que se saiu desse pleito é de que nas redes sociais, através da comunicação e marketing político, os candidatos chegaram a um nível de “vale tudo” por alcance e engajamento, com a intenção de ter um retorno em votos, como relata Rafael Melo, Professor de Comunicação pela UEPB, apontando que a falta de regulação da internet para a política prejudica o processo eleitoral.
“Antes, a gente não tinha a entrada dos entes políticos nos meios de comunicação sem um tipo de regulação. Então, essa regulação partia de quem? Dos meios de comunicação. Sendo que, nos últimos anos, os meios de comunicação também descambaram para uma completa desregulação.”
Essa postura adotada pelos candidatos desencadeia no meio político atual, gerando uma desconfiança da população sobre a democracia e instituições, como reflete uma pesquisa do Datafolha em março deste ano, apontando que 40% da população não confia no congresso nacional, importante instituição da democracia brasileira.
Rafael Melo ainda relata que a internet permite que o político obtenha um alcance muito maior que os meios de comunicação de massa, com acesso imediato e ilimitado, diferente dos segundos contados para cada legenda em uma propaganda eleitoral gratuita no rádio ou na TV. “Assim, nessa seara, nesse novo campo, que é um campo mediatizado que reflete uma prática social da realidade. Ou seja, a gente não consegue dissociar as redes sociais da realidade, é um bios midiático. Então, nesse espaço, o que esses políticos estão fazendo é uma espécie de vale tudo, ou seja, porque se aqui é minha rede social, minha rede social, minhas regras”.
Apesar do segundo turno ainda em andamento em vários colégios eleitorais importantes, já se discute uma maneira de ampliar a regulação da propaganda política nas redes sociais para o próximo certame eleitoral, uma vez que especialistas entendem que Resolução TSE n° 23.610/2019 (https://www.tse.jus.br/legislacao/compilada/res/2019/resolucao-no-23-610-de-18-de-dezembro-de-2019) já esteja defasada em relação ao avanço das redes.
Cabe às instituições e governos tornarem a participação popular importante não só nos anos de eleições, mas no cotidiano, fazendo o cidadão ter vez e voz ativa a todo instante, divulgando conferências de saúde, de assistência social, de educação, os orçamentos participativos e todos mecanismos que permitem a participação pública.
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FICHA TÉCNICA:
Reportagem: Lucas Oliveira, Rafaela Laureano, Celso Paz e Jaqueline Isabela
Edição de texto e imagens: Lucas Oliveira