Em tempos em que se comunicar usando a internet em aparelhos celulares faz parte do cotidiano da maioria da população, deixar de usar aplicativos de mensagens, como o WhatsApp, por exemplo, é um verdadeiro sacrifício. Com a intenção de renovar o espírito, em Santarém, no oeste paraense, a dona de casa Raimunda Girlene Picanço, de 41 anos decidiu abster-se do app durante a Quaresma – um dos períodos mais importantes para a fé, segundo os cristãos católicos. O momento representa um tempo de conversão, silêncio, oração, penitência e jejum.
Integrante do Movimento de Cursilho de Cristandade (MCC) Raimunda faz ‘jejuns’ neste período há 14 anos. Segundo ela, desde a Quarta-feira de Cinzas a rede social não faz parte da lista de aplicativos do celular dela. Ela conta que passava o dia conectada. “Eu fico trocando mensagens com o grupo de orações da comunidade católica que participo, com familiares e também amigos”.
Para a dona de casa, essa atitude significa a libertação espiritual para encontro de uma vida mais próxima de Deus. “A vida da gente é feita de escolhas. Durante esses catorze anos eu me abstenho de alguma coisa na Quaresma e na Semana Santa. Este ano optei ficar sem o aplicativo por quarenta e sete dias. Isso é uma forma de mostrar para o meu celular que sou eu e não ele quem me domina. Hoje o celular é um vício muito grande. Então as pessoas que me amam vão passar um ‘torpedão’ ou vão ligar para mim. Eu sempre falo que depois que inventaram o WhatsApp, ligação é uma grande prova de amor”, revela.
Raimunda é casada e tem um filho de 17 anos. Desde criança se dedica as obras da igreja. Este ano além de cumprir a penitência, o dinheiro que iria gastar com pacotes adicionais e recargas de internet móvel no celular, decidiu guardar para ajudar nas ações da Campanha da Fraternidade 2016.
Ao longo dos anos que se dedicou a praticar o jejum, garante que foram muitas as bênçãos alcançadas por meio do sacrífico. “Eu recebi e recebo muitas graças na minha vida. Uma das graças muito grande foi há um tempo quando eu fiquei muito doente, peguei uma infecção renal muito forte, sofria com muitas dores, passei pelo vale da sombra da morte, até o médico achava que eu iria morrer. Mas durante o período que eu sentia muita dor, muita febre, eu sentia muito forte a presença de Deus em minha vida e ele me deu uma nova chance de viver, ou seja, eu ainda tenho uma missão a cumprir”, conta.
Sem samba por 40 dias
Não há uma regra para os ‘jejuns’. A própria pessoa opta sobre o que quer se abster. De acordo com os católicos, o mais difícil é deixar de fazer o que você pratica com frequência. A costureira Rosângela Corrêa, de 42 anos, abandonou as rodas de samba que é apaixonada e procurou se dedicar ao trabalho voluntário em um grupo de teatro na igreja que frequenta. Ela afirma que faz o jejum e orações diárias há pelo menos oito anos.
Rosângela afirma que há quatro dias apenas de jejum já alcançou graças em todas as áreas da vida. Ela garantiu que a demanda de roupas em seu ateliê dobrou. “O motivo maior é ter a presença de Deus em casa. Depois que a gente vai amadurecendo as ideias, com o passar do tempo a gente sente aquela necessidade do descanso, de procurar algumas coisa mais a serviço de Deus. No começo é um pouco difícil, confesso que no primeiro ano foi um pouco difícil, mais depois de lá para cá, todos os anos eu faço o jejum e o mesmo trabalho voluntário. Através do trabalho voluntário já fui muito abençoada”, conta.
Quaresma
A Quaresma faz referência aos 40 dias em que Jesus Cristo passou no deserto. A coro roxa representa o período e faz parte da decoração das igrejas. A cor, segundo a igreja, significa penitência e luto. Durante a Quaresma, os católicos também fazem um esforço para recuperar o ritmo de preparação, principalmente aos domingos. Neste período é comum para os cristãos iniciarem o jejum ou abstinência. Alguns deixam de comer carne, ingerir bebidas alcoólicas, alimentos, vícios ou manias, coisas que são um sacrifício abandonar.
Do G1