O jovem de 18 anos preso no bairro Jardim Oceania, em João Pessoa, nesta sexta-feira (28), “deu dicas” via Whatsapp para o suspeito de matar e esquartejar uma família brasileira na Espanha. Segundo o delegado de homicídios Reinaldo Nóbrega, o estudante Marvin Henriques Correia chegou a receber fotos e manter uma conversa em tempo real com Patrick Gouveia, que confessou ter cometido a chacina em Pioz.
“Durante a execução do crime, Patrick conversava pelo Whatsapp em tempo real com o suspeito preso na Paraíba. Patrick perguntava como agir, como ele podia ocultar os corpos, o que fazer”, afirma o delegado. Nóbrega diz ainda que a conversa entre os dois aconteceu desde a morte de Janaína Américo e das crianças até depois da chegada e execução de Marcos Nogueira, tio de Patrick.
Marvin foi preso no início desta manhã em casa. A polícia também apreendeu o computador, o passaporte e outros objetos do estudante. Para o advogado dele, Sheyner Asfora, ainda não há como concluir que o jovem teve participação efetiva na chacina.
A polícia diz que Marvin não pode ser extraditado e deve responder processo no Brasil. Ele participará de audiência de custódia na segunda-feira (31).
Fotos das vítimas
Em uma coletiva de imprensa, realizada às 9h45 (horário local), os delegados Marcos Paulo Vilela e Reinaldo Nóbrega informaram que um jovem preso em João Pessoa havia participado indiretamente do caso. De acordo a Polícia Civil, o estudante amigo de Patrick confirmou a participação no homicídio, no entanto, não tinha noção da dimensão do que aquela conversa com Patrick poderia causar.
“Marvin se mostrou arrependido e triste com a situação e chegou a colaborar conosco, esclarecendo alguns pontos”, explicou Marcos Paulo Vilela, delegado geral da Polícia Civil.
Ainda de acordo com os policiais, a participação de Marvin Henriques foi confirmada após um amigo dele ter acesso ao seu celular e encontrar fotos dos corpos da família Nogueira esquartejada, imagens que teriam sido enviadas pelo próprio Patrick via aplicativo de celular.
O celular do amigo de Patrick foi encaminhado para a Polícia Federal, que após exames técnicos, confirmou que se tratavam de imagens verídicas e feitas pelo principal suspeito de matar e esquartejar Janaína, Marcos e as duas crianças em uma casa em Pioz, na região metropolitana de Madri, na Espanha.
“Ele [Marvin Henriques] só acreditou que Patrick tinha de fato matado a família quando viu as fotos. Mesmo sabendo do crime cometido por Patrick, o estudante continuou ajudando Patrick como proceder no caso. Ele é partícipe no crime”, acrescenteu o delegado de homicídios de João Pessoa.
Marvin chegou a se encontrar pessoalmente com Patrick pelo menos duas vezes em João Pessoa, segundo a polícia.
O material apreendido com Marvin vai ser analisado pela Polícia Civil e, de acordo com o delegado, uma cópia do inquérito deve ser solicitada pela Justiça espanhola para ser anexada à investigação de Patrick.
Reconstituição do crime
Tio de Patrick e irmão de Marcos, Walfran Campos acompanhou do lado de fora da casa a reconstituição do crime, que foi realizada na quarta-feira (26). “Ele [Patrick] não mostra nenhum tipo de arrependimento, ele está super calado, frio. Em todos os depoimentos dele, é centrado, tranquilo. E isso até assusta a polícia pelo fato de ele não mostrar remorso”, declarou.
Patrick, sobrinho de Marcos Nogueira, se entregou voluntariamente à polícia espanhola no dia 19 de outubro e confessou o crime dois dias depois. Ele segue detido.
Segundo Walfran, durante a reconstituição, Patrick repetiu o que já havia dito em depoimento à Guarda Civil, a polícia federal da Espanha.
“Ele não conta como matou as crianças, ele diz que esqueceu de como fez o ato com as crianças. E ele conta também que, antes de matar meu irmão, ele esperou meu irmão chegar e ficou conversando com ele 30 minutos lá no jardim da casa, na piscina, e, ao entrar na casa, ele disse que meu irmão virou pra ele e, automaticamente, ele atacou com uma facada. Já tinha matado as duas crianças e a mulher, Janaína”, relatou.
Antes de voltar ao Brasil, o irmão de Marcos explicou que teve acesso às informações da investigação que estão em segredo de justiça. “Tive acesso às fotos, que mostram a brutalidade que fizeram com minha família”, comentou.
Sobre uma provável alegação de insanidade mental de Patrick, Walfan disse que é natural haver um argumento da defesa. “Ele tem que se defender. Mas, vai ser examinado pelos médicos e peritos e ver se realmente ele tem isso mesmo. Acho difícil ele escapar dessa porque o crime chocou muito aqui na Espanha e o povo está querendo justiça”, declarou.
Entenda o caso
Os corpos de Janaína, Marcos e das duas crianças foram achados esquartejados em uma casa na cidade espanhola de Pioz em setembro, depois que um vizinho alertou sobre o mal cheiro perto da casa da família.
Após o início das investigações, a Justiça emitiu uma ordem de prisão europeia e internacional contra Patrick, que é sobrinho de Marcos, mas até então o suspeito ainda não havia recebido nenhuma notificação sobre o mandado de prisão no Brasil.
Ele resolveu se entregar após o advogado dele, Eduardo de Araújo, voltar para o Brasil e explicar à família os detalhes do processo. O advogado informou que Patrick acredita poder se defender melhor das acusações na Espanha.
O advogado disse que ficou surpreso ao saber da confissão, uma vez que enquanto estava no Brasil, Patrick negava ter cometido o crime. “Foi algo que surpreendeu, na verdade, porque o Patrick volta para a Espanha alegando que precisaria estar lá porque teria melhores condições de apresentar suas versões do fato e se defender de suas acusações. Aqui, ele insistiu em sua inocência”, disse.
Julgamento
Na última sexta-feira (21), a promotora-chefe de Guadalajara, Dolores Guiard, informou à agência EFE que pediu a prisão provisória de Patrick “pela gravidade dos fatos e a ausência de firmeza no país”, para assegurar assim a permanência dele na Espanha.
Sobre as possíveis penas, a promotora-chefe disse que o Código Penal estabelece que os assassinatos de crianças menores de 16 anos são penalizados com prisão perpétua, que pode ser revisada depois de um tempo.
Do G1