O tempo não apaga o que fica gravado no coração! Basta um novo ciclo se iniciar para memória e história se conectarem… É o que estou vivendo agora!
Os idos de 1998 se revestem de significado. Sinceramente acho que nunca desci daquela bicicleta. Ela me transportava da Rádio Integração de Bananeiras para meu esconderijo em Solânea, sem eu saber que meu destino era pedalar, um movimento fiel a expressão “andar pra frente, sempre”. Aquele equilíbrio nunca perdi. Ele me fez capaz de perceber quando o vento forte impõe o recuo e quando a calmaria abre caminho para avançar. Aquela bicicleta tinha freios, os mesmos que até hoje brigam comigo para brecar os meus impulsos e sentenciam rédeas para minhas aventuras. Santos freios! Quando os esqueço, esbarro na minha primeira tentativa de engrandecimento e a humildade grita dizendo eu existo.
Bendita bicicleta que me colocava exposto às intempéries do tempo. Na chuva ou no sol precisava sair do esconderijo para cumprir horários. Chegar molhado no trabalho só revoltava até saber que dezenas lutavam por minha vaga. A roupa secava a medida que a vontade de crescer chegava. E a cor da bike? Imagina. Era verde! Coincidência ou providência? Apenas hoje ficou nítido que ali já estava a cor da esperança.
A reclamação era zero. A satisfação de fazer o que gostava não dava espaço para negatividade. Até hoje é assim! Acordo pela madrugada com a mesma energia e determinação. Nunca deixei de crer que o trabalho, em qualquer lugar, quando feito com amor, exala o perfume do bem-estar pessoal e coletivo. Não restam mais dúvidas de que fazer o que gosta é o combustível mais poderoso que existe.
Por circunstâncias diversas a bicicleta deixou de me transportar para o trabalho. As emissoras de rádio foram me levando e cada contrato mudava a realidade. Fui crescendo, mas nunca deixei de pedalar, sempre avante. Enfrentei tudo que é inerente aos lutadores, mas um elemento fundamental me ajudava: a paciência! Não tive pressa. Sabia que tudo tinha um tempo próprio para acontecer e assim foi. Deixei a Integração e migrei para a Cultura e Rural AM de Guarabira. Segui para a Talismã FM de Belém e depois para a Paraíba FM de João Pessoa até regressar para minha terra e chegar à Guarabira FM. Cada momento com o seu significado. Nesse intervalo, fui para política, casei, ganhei filhos, conclui graduação, construí minha casa e fiz vários amigos. Afinal já se passaram 22 anos.
Quando pensava que já tinha vivido muita coisa no rádio, sou pego de surpresa com a morte do inesquecível Paulo Costa. Essa lacuna me leva a gerência da Guarabira FM, atendendo ao convite do Sistema Correio de Comunicação. Nem preciso dizer o tamanho da responsabilidade que recebi em 20 de janeiro deste ano. Corri para renovar contratos, cobrir a Festa da Luz e bater metas. “Perdi” as férias e abracei a causa. Também não contava com a doença do companheiro Jean Ganso, que há mais de quatro meses me deixou sozinho na bancada do Jornal Correio da Manhã para tratar de sua saúde. Simultaneamente vândalos arrombaram a casa do transmissor e a pandemia do novo coronavírus – com o fechamento do comércio -, caíram sobre minha cabeça. Vi o planejamento gerencial e o faturamento desmoronarem. Porém, Deus não abandona os seus; dou testemunho. Eu sei que a mão de Deus me sustentou. Não perdi a fé e vi a tempestade gradativamente se acalmar. Iluminado por Deus foi contornando obstáculos e identificando os parceiros certos. Aos poucos as coisas começaram a voltar para os devidos lugares. A turbulência ainda não terminou, estamos em processo de batalha, vencendo cada etapa.
Hoje, seis meses depois da minha posse, diante de um cenário preocupante, Deus estendeu seu braço forte e nos permitiu entregar a primeira etapa da “repaginação” do estúdio da Guarabira FM. Uma vitória em plena crise! Só posso explicar o feito pela misericórdia de Deus.
Agora sei que em tempos de guerra nunca devemos parar de lutar, nunca devemos baixar a guarda. Pedale – no sentido literal da palavra -, pois é um movimento que certamente te levará pra frente! Avante!
Rafael San