Existem muitas festas e convenções sociais, mas para mim o Natal não é simplesmente uma festa é uma “experiência espiritual”. Eis que este ano essa experiência teve nome e sobrenome: Tereza!.
A presente fragilidade da mulher de 82 anos de vida foi constatada por Marcileide – minha esposa – e eu – ao passarmos pela porta principal do Abrigo Menino Jesus, em Solânea (PB), atual endereço da senhora que me tratou como filho entre 1998 e 1999 quando estreava profissionalmente como radialista na Rádio Integração de Bananeiras (PB), aos 16 anos.
Neste Natal decidimos “Terezar” com “T” maiúsculo de ternura. Ela sempre foi isso e sua atual condição de saúde não altera em nada as nossas memórias afetivas. Choramos, sorrimos, relembramos momentos. Hoje Tereza faz parte de um coletivo de 21 idosos muito bem acompanhados pelos profissionais e voluntários daquela instituição. Sem filhos biológicos, Tereza foi mãe e amiga de muitos padres, leigos, carentes ou desconhecidos como eu, que ali chegavam, comiam, dormiam e conheciam as verdades da vida desenhadas na cartilha de Tereza.
Hoje com pernas frágeis não corre mais para entregar as chaves da Igreja aos fiéis que gritavam na porta da Casa Paroquial. Sua fala prejudicada pelo AVC hoje não mais permite os altos papos bem agudos que ela gostava de fazer praticamente nas 24 horas do dia. Muitas funções foram afetadas, contudo, nada pode apagar a importância de um idoso na nossa caminhada de vida. Jamais devem ou podem ser descartados. Lutemos por mais instituições de acolhida para eles e por mais sensibilidade das famílias que ainda os abandonam. Quem deu tudo por nós, na maiora das vezes, só recebe desprezo e a solidão como herança.
O nosso “Terezar” natalino foi lindo. Zero de glumour, mas cheio de sentido. Visitar alguém que precisa saber de sua importância é um gesto de amor. E isso a rede social jamais substituirá, eles precisam de presença como presente. Se você sentiu essa necessidade, ainda dá tempo. O tempo é hoje, é agora. Amanhã pode ser tarde demais. Talvez levaremos a vida inteira sem perceber que a docilidade do Menino Jesus vive impregnada à versão idosa da pessoa esquecida por nós.
Por fim, agradeço ao padre Jandeilson – que em 1998 articulou essa façanha da minha hospedagem naquela casa junto ao padre Leonardo (in memorian) – sem eles o meu “Terezar” não aconteceria. Deus providencia os anjos com asa e tudo.
Rafael San