Quando a defesa brasileira desabou de forma individual e coletiva, apenas observando Eduardo Vargas abrir o placar logo no primeiro ataque chileno, estava desenhado um quadro indigesto demais para a Seleção. Precisando alcançar resultado e mostrar desempenho para começar a superar uma campanha até então vergonhosa nas Eliminatórias, a equipe de Dorival Jr. se via enredada pelo pior cenário possível.
O início de jogo era digno de pânico e calafrios, pois o Chile nem parecia o pior Chile das últimas décadas. Passou breves mas intensos minutos tentando apagar a desconfiança do Estádio Nacional e transformá-lo em alçapão. Mas o Brasil reagiu. De forma um tanto confusa e sem ideias claras, mas reagiu. Aliás, não se pode cobrar empenho dos jogadores. Correr é o que mais eles têm feito, ainda que muitas vezes cercados por espaços imensos e nem sempre com objetivos definidos.
Dessa forma, à sua maneira, a Seleção encurralou o Chile, e viu Savinho e Abner se destacarem pela imposição. Sobretudo, viu Igor Jesus encontrar um atalho para o fim do drama em cabeçada digna de um camisa 9 do Brasil, pouco antes do intervalo. No segundo tempo, após as entradas de Gérson e Bruno Guimarães, o time brasileiro passou pelo seu melhor momento. Ao menos, o momento mais lúcido, quando se propôs a jogar com maior velocidade, passando por cima do meio-campo chileno.
Justamente quando o ânimo havia arrefecido e certo desespero tomava conta de todos os envolvidos, até porque Chile, beijando o rodapé da tabela, precisava atacar de qualquer forma, surgiu o cometa chamado Luiz Henrique, prometendo com a perna esquerda até cumprir a ameaça, para virar o jogo para o Brasil, que em Santiago se vestiu de Botafogo para aliviar um pouco a agonia.
A vitória contra o Chile é um passo a mais em um processo que vem se mostrando difícil — a retomada de desempenho pela Seleção, que busca desesperadamente um modelo de jogo, a recuperação da confiança da torcida e uma posição mais digna e confortável na classificação das Eliminatórias. Também, é claro, concede um respiro a Dorival Jr., que certamente anda vivendo meses de noites agitadas. Por mais que tente, o Brasil ainda joga pouco.
A rodada perfeita para inaugurar um novo momento encerra-se contra o Peru, na próxima terça-feira. Espera-se, obviamente, uma vitória. Mas será preciso um desempenho mais consistente, sem os sobressaltos vividos em território chileno. E só depois de resolver esta equação, resultado mais desempenho, quem sabe até algum prazer envolvido, é que a Seleção Brasileira vai se sentir no direito de começar a pensar em um projeto mirando a Copa do Mundo.
GE