Nos últimos 15 anos nos reunimos em torno da “ceia do Natal”. Pratos especiais e bebidas selecionadas ornamentavam a mesa. Todos que chegavam, convidados ou não, comiam e bebiam. Em alguns anos, amanhecemos o dia. Uma grande confraternização! Porém este ano não teve “ceia” aqui em casa. Foi a primeira vez, desde que casei com Marcileide, que o silêncio ocupou a mesa em plena noite de Natal. Nos restou dormir.
Depois de velar e sepultar amigos na véspera e no dia de Natal não havia clima para festança. Temos sentimentos, somos humanos…
Começou com Paulo Costa. Radialista e cantor com quem convivemos nos últimos anos, filho de Pilõezinhos. No Rádio, abriu portas para mim e foi o principal responsável pelo meu ingresso no jornalismo, pois antes apresentava programas musicais, mas viu como águia que deveria dar notícias. Ele estava certo. Faleceu dia 23 e foi enterrado dia 24.
Quando nos preparávamos para enterrar Paulo, Heldo Maximiano morre também, outro filho de Pilõezinhos. Um jovem com quem convivemos na escola, nas ruas, no Grupo Nova Semente, na Prefeitura como Secretário de Finanças e nas peladas da quadra de esportes. Heldo, sepultado neste dia 25, ouvia meu programa e interagia comigo compartilhando informações. Era um menino bom e do bem. Assim como Paulo, deixa família e muitos amigos.
Excepcionalmente, este ano, silenciamos. E no silêncio encontramos o conforto que o “verdadeiro Natal” nos traz: “A Graça de Deus nos visita também no fracasso humano”.
Basta um simples “ato de fé”, como fechar os olhos e pensar em Deus para ouvirmos os mensageiros invisíveis nos dizendo que embora o triunfo divino não esteja nas notícias das redes sociais, nas mazelas da humanidade, na frieza das pessoas, nas disputas e intrigas, o triunfo acontece de forma leve e suave ao ponto de nos tocar e nos trazer de volta o verdadeiro sentido desta passagem curtíssima pela terra, que é simplesmente amar.
O Natal é a confirmação plena do amor! A cena é linda: Deus imenso, desce a terra, se faz um de nós para não somente entender nossas dores, mas transformá-las em alegria. Isso que é amor! Sem a doação de Deus, não enxergaríamos a esperança na morte, o conforto na partida. É o amor de Deus, do verdadeiro Natal, que nos deu essa possibilidade de triunfar mesmo no aparente fracasso total. Isso é Natal!
Com as mortes desses amigos, mesmo na dor, presenciei reconciliações, fraternidade, perdão, reencontro e gestos de cura espiritual. Entendi o porque santamente professamos que a luz resplandece em meio a escuridão. Isso é Natal!
Mesmo em meio ao fracasso humano, agradeço a Deus por este Natal de tanto ensinamento e esperança, que mesmo diante da minha miserabilidade veio me visitar e confirmou a verdade invisível do seu triunfo divino.
O céu está alegre! Recebe seus filhos Paulo e Heldo! É Natal hoje de novo! Digamos: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados! Hoje nasceu para nós o Salvador, que é Cristo o Senhor!.
Rafael San