Pesquisadores brasileiros e norte-americanos irão para João Pessoa, na Paraíba, na segunda-feira, para recrutar mães e bebês a fim de entender se o Zika vírus tem ligação com a microcefalia, uma má-formação cerebral em bebês.
O Brasil confirmou mais de 500 casos de microcefalia – quando uma criança desenvolve uma cabeça anormalmente pequena – desde o começo do surto de Zika. Quase 4.000 casos suspeitos estão sendo investigados.
O país normalmente registra cerca de 150 casos por ano. A alta na microcefalia levou a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1º de fevereiro, a declarar o Zika uma emergência de saúde internacional.
O estudo tem sido planejado há várias semanas. Ele colocará lado a lado pesquisadores dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) e especialistas brasileiros para examinar bebês já nascidos com microcefalia, e suas mães, para determinar se o Zika ou alguma outra infecção tem causado essa condição.
“O que estamos tentando fazer é melhor definir a associação entre crianças que foram diagnosticadas com microcefalia e se elas podem ter evidências de infecção congenital do vírus Zika”, disse a epidemiologista Erin Staples, do CDC, uma das líderes do estudo na Paraíba.
Em entrevista, Erin deu os primeiros detalhes de um aguardado estudo. Pesquisadores esperam avaliar 100 mães e seus bebês com microcefalia. Eles serão comparados com 300 a 400 mães e bebês saudáveis. Resultados iniciais são esperados ainda no primeiro semestre, disse um representante sênior do CDC.
Amostras de sangue de ambos os grupos serão recolhidas para testes em busca de sinais de infecção pelo Zika.
Atuais testes diagnósticos que buscam por anticorpos para o Zika são limitados porque se parecem com a dengue, um vírus relacionado bastante comum no Brasil. A equipe espera que extrair amostras tanto das mães quanto de seus bebês dará um quadro mais preciso se o Zika está envolvido. Eles também vão olhar para outras exposições que podem explicar por que um bebê desenvolve microcefalia.
O estudo deve ajudar a determinar o risco relativo de microcefalia em bebês cujas mães foram infectadas pelo Zika.
Erin disse que o trabalho pode fornecer uma confirmação mais forte dessa ligação, mas pode levar anos de investigação científica para provar se o Zika realmente causa microcefalia.
Nesse meio tempo, evidências de uma conexão se acumulam. Pesquisadores encontraram o vírus em tecido cerebral de fetos, em fluído amniótico e na placenta. Uma autópsia de um feto abortado mostrou todo o código genético do vírus no cérebro e provas de que o vírus estava se replicando.
Brasil é o único país a relatar um surto de microcefalia após o Zika ter chegado no ano passado.
O CDC tem interesse em investigar a questão à medida que o Zika se dirige ao norte global. O vírus transmitido por mosquitos está circulando em Porto Rico, um território dos EUA, e deve cegar ao sul dos EUA na primavera.
Erin disse que levará de quatro a cinco semanas para que o estudo seja totalmente desenvolvido, mas pode levar mais tempo.
“Precisamos garantir que temos o número certo de casos e controles para sermos capazes de dizer, com um bom grau de certeza, o que está acontecendo”, disse ela.
Da Reuters