Só por um janeiro a mais meu paupérrimo conhecimento teológico é desnudado e meu simplório afeto religioso – herdado de meus pais – é colocado de lado para buscar compreender o que leva algumas centenas de nativos de Pilõezinhos (PB) a lançar um olhar tão especial para a história de Sebastião, o soldado romano dos primeiros séculos da cristandade que ousou defender sua convicção de fé em Jesus Cristo contra o Imperador de Roma e, consequentemente, assassinado por tornar inegociável sua convicção. Seu martírio rendeu-lhe o título de santo entre os cristãos.
Passados anos de observação e experiência vivenciada entre os devotos de São Sebastião, cheguei a uma conclusão: “o povo, conscientemente ou não, exalta com razão esse cidadão da pátria celeste”.
O ser humano é atraído não apenas por tragédias, mas também por atos heroicos palpáveis. Os fracos podem até reunir multidões por algum tempo, contudo, são os fortes que arrastam com os seus exemplos. Mas Sebastião não é qualquer exemplo, é sobretudo, alguém que morre por uma causa, um propósito, um sentido de vida. Quem assim procede logo toca outros que igualmente desejam não um santo para chamar de seu, mas almejam um dia encontrar também uma razão para viver ou uma causa pela qual sua defesa seja tão cheia de significado que nem mesmo a morte seja capaz de detê-lo. Logo, isso não é morrer, é viver plenamente!
Por anos participando de procissões, novenas e orações, vi o quanto devia me orgulhar de propagar a sabedoria de um povo que escolheu uma linda história para se inspirar e disso não deve se envergonhar. Sem nenhum demérito é fácil de entender que se sabemos exaltar políticos, artistas, líderes, atletas e etc, sabemos mais ainda reconhecer a entrega de alguém que viveu o transcendente e, já naquela época, não aceitava que a vida fosse uma mera descoberta biológica, cartesiana ou positivista, todavia mostrou que vida é também espiritual – não na visão religiosa pura e simplesmente – mas no campo das coisas intocáveis e do sobrenatural, naquela dimensão que permite o homem ir além de si mesmo e viver sentimentos, emoções e experiências que são muito mais que carne e osso, é o espaço do humano que realmente ele é mais que alguém que nasce, cresce e morre. Enfim, é a dimensão onde podemos encontrar uma autotranscedência como o próprio São Sebastião que foi além de seus limites físicos, biológicos e sociais, ele provou que somos mais que as circunstâncias que nos são impostas.
Parabéns, Pilõezinhos! Não vibramos, choramos, clamamos, cantamos por qualquer um. Eternizamos pessoas, momentos e atos que nos tocam profundamente e essa história de fé ganha uma moldura especial e jamais sairá da nossa parede da memória, exatamente pelo fato de ser uma resposta para o drama do vazio existencial presente na sociedade atual que vive como se nunca fosse morrer e morre como se nunca tivesse vivido. O sentido, o propósito, a causa, a missão ou qualquer outro sinônimo que você queira encontrar, é exatamente o que nos faz suportar a dureza dos tempos e, com leveza, encontrar a felicidade como consequência.
São Sebastião ultrapassa os séculos para nos dar o maior dos recados: passar por esta terra e viver uma vida pobre de sentido é o mesmo que não viver!
Sebastião encontrou em Jesus Cristo sua razão de viver. E você já encontrou a sua?
Rafael San