Em 1989, no disco “As Quatro Estações”, Renato Russo lançava uma música chamada “Há tempos”. Por vezes a gente ouve a música, gosta da levada e curte aquele pop rock que marcou uma geração. Mas, em relação a letra, quantos de nós paramos para, de fato, fazer uma análise e sentir ao menos o que Renato quis no dizer?
“Há tempos”, lançada em 1989, ainda é tão atual como tivesse sido lançada ontem. O tempo passa, as coisas se transformam, mas a música permanece com a mesma mensagem que há mais de 30 anos nos diz a mesma coisa e nunca deixa de ser atual.
Renato então disse: “Parece cocaína, mas é só tristeza”. Parece uma frase comum e simples, mas acredite, ela tem uma mensagem muito forte. Vivemos hoje uma geração do consumismo, da ansiedade, agressividade, insônia, sensação de poder e muitas outras coisas que são sintomas da cocaína, mas, no interior de cada pessoa com essas características, acredite, não é cocaína, muitas nem usam drogas. Tudo isso é só tristeza após o efeito da adrenalina de, muitas vezes, não conseguir o que quer. Como dizia Cartola: “o mundo é um moinho”.
Com as frustrações, muitos perdem a paz, a alegria. Renato Russo disse: “Tua tristeza é tão exata, e hoje o dia é tão bonito. Já estamos acostumados a não termos mais nem isso”. Muitos jovens sabem descrever com exatidão a tristeza que sente a um amigo, e ás vezes até esquecem de enxergar a beleza do dia, o encanto da natureza, a brisa no rosto. A gente vive tempos tão sombrios que nem nos damos conta do espetáculo da vida e, como diz a canção: “já estamos acostumados a não termos mais nem isso”.
RICKY VALLEN EM UMA APRESENTAÇÃO INCRÍVEL DA MÚSICA “HÁ TEMPOS”, NO PROGRAMA DO RAUL GIL
Renato diz algo muito forte no trecho: “Disseste que se tua voz tivesse força igual à imensa dor que sentes… Teu grito acordaria não só a tua casa, mas a vizinhança inteira…” Amigos, quantas pessoas estão gritando de dor e tristeza ao lado da gente, mas infelizmente a gente não ouve? E por que não ouvimos? Porque o grito é proporcional a dor, e a gente, por vezes, não enxerga a dor do outro. Vivemos tempos tão difíceis que, como diz a música “nem os santos tem ao certo a medida da maldade”. A todo momento, em todos os lugares, tem jovens precisando de ajuda. Não especificamente de ajuda material, mas de um apoio moral, psicológico, um incentivo, um conselho. Renato disse, em 1989, “E há tempos são os jovens que adoecem, e há tempos o encanto está ausente
e há ferrugem nos sorrisos, e só o acaso estende os braços a quem procura abrigo e proteção”. O quem será esse acaso? Será que ele vai nos proteger? Como dizia “Titãs” na canção “Epitáfio”. Será que o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído?
Renato finaliza dizendo, aconselhando, que “disciplina é liberdade”. Alguém até pode achar contraditório e dizer que disciplina é prisão. Mas não! Só quem tem disciplina de fazer o que deve ser feito terá a liberdade de ser e escolher aquilo que quer ser. A disciplina dos dá a liberdade da condução de um caminho escolhido por nós mesmos. “Compaixão é fortaleza”. Diante de um cenário onde o ego é evidente, um ato de compaixão é um ato de grandeza. Assim como “Ter bondade é ter coragem”. Assim como a coragem é para poucos, a bondade é diretamente proporcional a isso. E, por fim, “Lá em casa tem um poço, mas a água é muito limpa”. Por mais difícil que pareça, é lá, na sua casa, onde a fonte da regeneração te dará o poder e a força de retomada que você precisará para seguir em frente.
Por Adriano Santos